31 janeiro 2010

Citações: Hilly Crystal e Marky Ramone, o CBGB e a actualidade dos Ramones

Na sequência do post anterior.

Hilly Krystal, proprietário do CBGB, sobre o nome do clube: "CBGB - OMFUG":

"The question most often asked of me is, "What does CBGB stand for?" I reply, "It stands for the kind of music I intended to have, but not the kind that we became famous for: COUNTRY BLUEGRASS BLUES." The next question is always, "but what does OMFUG stand for?" and I say "That's more of what we do, It means OTHER MUSIC FOR UPLIFTING GORMANDIZERS." And what is a gormandizer? It's a voracious eater of, in this case, MUSIC."

Marky Ramone, o único membro vivo dos Ramones, entrevistado por ocasião da apresentação do documentário Burning Down the House: The Story of CBGB, no Tribeca Film Festival (2009), sobre a actualidade da banda:

"People don't change...technology does. And people have the same problems they did years ago...jobs, economy, their siblings, their girlfriends, boyfriends, school situations, confrontations, you know, so it's really all the same, you know?"

E aqui fica o vídeo da entrevista a Marky Ramone...

29 janeiro 2010

Histórias Cruzadas: CBGB e os Ramones

 Este post inclui o vídeo de uma  das primeiras actuações dos Ramones no CBGB (1974) e o trailer do documentário Burning Down the House: The Story of CBGB (2009).


(Foto de Bob Gruen,  Ramones, "Outside CBGB NYC 1975")

As histórias do CBGB, o mítico clube nova-iorquino, berço da cena punk norte-americana, e dos Ramones estão indelevelmente ligadas. O clube abriu as portas em Dezembro de 1973, sendo os Television a sua primeira banda residente (Primavera de 1974). Seguiram-se-lhes os The Ramones, Blondie, Talking Heads, Patti Smith e The Dead Boys, entre outros.

Os  Ramones fizeram 72 actuações no CBGB em 1974. A primeira foi no dia 16 de Agosto.
No seu registo da história do clube (1998), o proprietário Hilly Krystal relembra essas primeiras actuações da banda:
"As for the Ramones, they were even worse than Television. At that first gig at CBGB, they were the most untogether group I'd ever heard. They kept starting and stopping-equipment breaking down- and yelling at each other. They were a mess.

Little did I suspect that both Television and the Ramones would eventually get it together and become two of the most important punk bands of the 70's.

It taught me to be more forgiving in judging new bands, and to listen a little more closely. I think both the Ramones and Television teach a valuable lesson for aspiring artists. They were wonderfully talented, they believed in themselves, they had integrity, they were persistent, and they worked hard."

(http://www.cbgb.com/history/history3.htm)

Em 2009, o documentário Burning Down the House: The Story of CBGB, produzido por Mandy Stein, foi apresentado no Tribeca Film Festival (Nova Iorque). A ligação de Mandy aos  Ramones começou muito cedo: a mãe de Mandy foi agente da banda, e aos 3 anos Mandy já assistia aos sound checks dos concertos.

Mandy Stein levou em 2006 ao Tribeca Festival o documentário Too Tough To Die: A Tribute to Johnny Ramone e encontra-se neste momento envolvida na realização de um documentário sobre os Bad Brains.

Ficam: um vídeo com uma das primeiras actuações dos  Ramones no CBGB e o trailer do documentário referido.




28 janeiro 2010

John Robb sobre o concerto dos Goldblade em Argel





John Robb, o vocalista dos veteranos Goldblade, colocou ontem um post  interessante no blog de música do jornal britânico The Guardian, sobre a actuação da banda na capital da Argélia.

De acordo com Robb, os Goldblade foram a 1ª banda punk a actuar naquele país nos últimos anos.

Fica o link para o artigo, que se intitula "How Goldblade Rocked the Casbah" e o vídeo "Jukebox Generation" dos Goldblade, incluído por Robb no post do The Guardian.

27 janeiro 2010

Download Festival 2010

Este post inclui os vídeos de "Thunderstruck" e de "Back in Black" dos AC/DC (ao vivo em Donnington Park, 1991).




A organização de um dos festivais britânicos de referência divulgou nos últimos dias alguns dos cabeças de cartaz da edição de 2010, a realizar entre 11 e 13 de Junho próximo, e que comemora os 30 anos do Festival Monsters of Rock (agora Download Festival). Metallica, Soundgarden e Van Halen são alguns dos nomes também referidos como potenciais adições ao cartaz. Os bilhetes para o festival serão colocados à venda na próxima sexta-feira, 29 de Janeiro,  às 9h e prometem esgotar depressa...
Os preços são de £145 (167€) (bilhete para os 3 dias) e £170 (196€) (bilhete + campismo).

O Festival realiza-se em Donnington Park, localizado a sudeste da cidade inglesa de Derby, e a apenas a uma milha do aeroporto de East Midlands, para onde voam (desde Faro) as companhias aéreas low cost easyjet e Ryanair.

Mais informações sobre o Festival podem ser obtidas nos seguintes websites:

http://www.facebook.com/downloadfest?ref=mf

Vídeos da organização sobre a edição de 2010 (comemorativa dos 30 anos do Festival):


Aqui  ficam dois vídeos da actuação dos AC/DC em Donnington Park (na edição de 1991 do Monsters of Rock)...

"Back in Black" foi também interpretado pelos Muse no passado dia 22 de Janeiro, aquando da sua passagem pela Austrália (Sydney), no âmbito da Resistance Tour, e contou com a colaboração de Nic Cester dos Jet. (O vídeo pode ser visto aqui.)



26 janeiro 2010

Punks United: Impressões de The Casualties etc.


Foto: "Cais do Ginjal II", de João Pedro Neves

O punk surgiu há 3 décadas, mas a sua actualidade inquestionável deve-se, em grande medida, à persistência ou mesmo agudização das condições sociais, económicas e políticas que lhe deram origem, e contra as quais se insurgiu (em particular no contexto britânico): políticas neoliberais orientadas para a maximização do lucro, “capitalismo casino” (Susan Strange), economia desregulada e globalizada, e as feridas abertas da desindustrialização e do desemprego massivo e estrutural.

A vinda dos The Casualties a Portugal, no passado sábado, no âmbito da tournée de promoção do seu último trabalho, We Are All We Have, deu o mote para um concerto memorável que confirmou a pujança das cenas punk nacional e internacional, alimentadas sem dúvida pelo desencanto, descontentamento, revolta e impotência perante uma realidade social difícil, injusta e sem perspectivas de mudança.

O espectáculo realizou-se no Revólver Bar, localizado em Cacilhas, no antigo Cais do Ginjal. Outrora um ponto nevrálgico da economia local, o cais, e as carcaças dos armazéns e das fábricas que lhe deram vida e que sustentaram as vidas de muita gente, são hoje monumentos emblemáticos do estado decadente e sem rumo das sociedades industriais contemporâneas, e da destruição criativa do capitalismo. É um local triste e inquietante, cheio de fantasmas e de memórias de um passado diferente, e da angústia de um futuro sempre adiado, que nem a vista gloriosa de Lisboa numa rara tarde de sol de um Janeiro invernoso conseguiu afugentar.

Com o cair da noite, o cais começou a transformar-se, à medida que os restaurantes e os cafés circundantes se enchiam de gente que teima em celebrar o que a vida – e o fim-de-semana – têm de melhor neste cantinho à beira-mar. Aí o ambiente era de confraternização e de alegria e as T-Shirts de “Ramones”, “The Casualties”, “Peste & Sida”, “Tara Perdida”, etc. não enganavam: hoje havia festa no velho cais.

Com algum atraso face ao previsto, os P.H.T. abriram as hostilidades com o seu som rápido e irreverente, e a sala, pouco espaçosa, rapidamente preencheu a sua capacidade. Desde logo se percebeu que o sucesso da noite estava garantido, com uma participação incondicional do público desde o primeiro minuto.

Seguiram-se-lhes os igualmente imparáveis e já veteranos Albert Fish, cujo último trabalho, News from the Front, fez abanar os corpos mas também as mentes, transportando-nos, mais uma vez, para a dura realidade social contemporânea, simbolizada pelo Cais do Ginjal (e os seus fantasmas): “The voices from the past shout questions that remain unanswered, Entertain the mind with thoughts of better days” (Albert Fish, “No Plan”).

O público demonstrou bem o seu apreço por esta banda lisboeta, correspondendo com entusiasmo e com as letras bem presentes. “We Stand Together”, hino poderoso da rebeldia e união punk, constituiu decerto um momento especial e teria sido mesmo o ponto alto da actuação desta banda, não fosse a totalmente inesperada interpretação do tema “Angústia”, dos míticos Censurados, com a participação do seu não menos mítico vocalista, João Ribas, vigorosamente intimado a subir ao palco.

“Estou perdido neste mundo/Estou perdido que é que eu faço aqui/Quero ir-me embora/Mas não sei para onde ir/Quero ter uma vida nova/Neste mundo quero existir/Angústia” (Censurados, “Angústia”)

Os Simbiose deram seguimento ao espectáculo, com a sua sonoridade rápida, crua e brutal, que, como as suas letras directas, impiedosas e interpeladoras, não deixa ninguém indiferente. “O país está em crise/E mal podemos comer./Pagas impostos para tudo, Mal conseguimos viver,/Saúde e educação,/Sem condições para trabalhar!/Nós temos de pagar/E eles querem encerrar” (Simbiose, “Sem Moral”). “Auto-estima” constituiu um dos momentos marcantes da performance da banda, com o público a gritar em uníssono “Deves falar/Dar a tua opinião/Não fiques calado/Segue a tua direcção”.

Finalmente, e depois desta maratona de punk nacional, foi a vez dos cabeças de cartaz subirem ao palco para uma verdadeira descarga de energia alucinante e de power punk que durante mais de uma hora não deu tréguas à assistência que, imparável e delirante, esteve bem à altura do desafio, com constantes e inúmeras ‘pit manoeuvres’, com destaque para o stage dive, crowd surf e circle pit. Raros foram os momentos em que os The Casualties tiveram o palco só para si, e alturas houve mesmo em que era difícil distinguir os elementos da banda nova-iorquina por entre os muitos fãs que lá se encontravam…

Dos muitos êxitos que se ouviram podemos destacar alguns temas fortes do último álbum, como “We Carry On The Flag”, “We Are All We Have”, “War Is Business”, “Unemployment – Depression Lines” ou “Stand Against Them All”; de Under Attack (2006): “Under Attack”, “System Failed Us…Again”, “Social Outcast”, “VIP” ou “No Solution…No Control”, e alguns clássicos incontornáveis, como “Riot”, “For The Punx”e o verdadeiro hino “Punx Unite”, sem esquecer o momento especial de tributo aos Ramones, com a cover de “Blitzkrieg Bop”.

As temáticas abordadas não poderiam ser mais actuais, e complementaram/repetiram a mensagem das bandas portuguesas que os antecederam. Através da sua música, os The Casualties manifestam desencanto, impotência e descrença no sistema vigente, insurgem-se contra o militarismo e imperialismo americanos, contra o desemprego, a pobreza, a exclusão e injustiça sociais, a destruição do meio ambiente, e apelam à união e à luta como necessárias à mudança.

Enfim, uma noite verdadeiramente memorável, a demonstrar a actualidade e a necessidade da música e do espírito punk originais, celebrados, continuados e actualizados com novo fôlego e da melhor maneira por todas as bandas participantes e pelo público presente, que soube criar uma atmosfera e energia muito positivas, de alegria e coesão.

Impõe-se uma palavra final de apreço e de reconhecimento à Infected Records DIY, e a todos aqueles que contribuíram com o seu tempo e o seu trabalho para a realização deste evento.

“No matter what's needed
Or how great the hurry
As long as there's rebels (…)”

(The Casualties, “Social Outcast”)

23 janeiro 2010

The Casualties hoje: o perene espírito punk de revolta e rebelião



A banda nova-iorquina de street punk passa hoje mais uma vez pelo nosso país, no âmbito da tour de promoção do seu último trabalho, We are all we have, que (à semelhança de trabalhos anteriores) poderíamos descrever como um grito de revolta e de rebelião perante as 'nossas' sociedades neoliberais norte-atlânticas actuais...

Aqui ficam dois temas, "We are all we have" (do último álbum) e "System failed us...again" (ao vivo, Praga 2008)(com letra).

We Are All We Have

THE CASUALTIES | Vídeos de Música do MySpace





"System Failed Us...Again"

Whoa.. oh.. oh.. the system failed us again
Whoa.. oh.. oh.. the system failed us again

Factory layoff, welfare checks
Who's to blame for the state we're in?
The system failed us
Government housing, concentration camps
Ghetto barriers separate each class
The system failed us

Whoa.. oh.. oh.. the system failed us again
Whoa.. oh.. oh.. the system failed us again

We've been pushed down into extinction
Talking about the infirmed, the elderly
Families can't afford health insurance
Have to choose - groceries to eat or medicine to live

Native cultures, praise the old
Through experience they've seen it all
The system failed us
There's a power in control
Making sure they won't teach the young
The system failed us

Whoa.. oh.. oh.. the system failed us again
Whoa.. oh.. oh.. the system failed us again

At charity care they treat you like shit
They've got jobs, so they don't care
So you must bow like a slave
You're future depends on the decision they make

The system failed us...

See benefits being taken away
From the people, who's money you take
The system failed us
Perhaps they know too much
Get rid of them before they talk
The system failed us

21 janeiro 2010

O dia em que Bob Gruen conheceu os The Clash

Este post inclui o vídeo "Guns of Brixton" (ao vivo, US Festival,1983) e um excerto do documentário The Last Testament: The Making of London Calling (2004).

Este post vem na sequência da entrada anterior, sobre o fotógrafo Bob Gruen, e ainda no âmbito da recente comemoração dos 30 anos de London Calling (14 de Dezembro de 2009), prontamente 'aproveitada' por duas grandes multinacionais: a Sony com o lançamento de uma edição especial do álbum (Vinil+CD+ Documentário The Last Testament: the Making of London Calling) e a Converse com o fabrico de  um modelo especial (comemorativo) de sapatilhas...

Numa entrevista originalmente publicada no curioso website New York Trash, e reproduzida na sua página, Bob Gruen descreve o seu encontro com os The Clash, que se transcreve abaixo.


 (Foto (Bob Gruen com Paul Simonon e Mick Jones, San Francisco 1979)


"(...) I remember Joe Strummer and Mick Jones had just gotten together, and I went with Vivien (Westwood), Jon Savage and Carolyn Coon in Vivien's tiny mini to the ICA to see the Clash play their second show. I have pictures of that. I thought they were a fucking great band, and after I came back to America I started to hear more about them. I liked them and wanted to see them again the next time I went to London. 


I remember calling up the record company and saying I wanted to see the Clash and being told 'oh, not the Clash, they're impossible to deal with, we can't get you any photo passes, they won't do anything we ask them'. I asked if they could just tell me where they were.(...)

(Foto: "Joe Strummer - Hand Over Eyes", England 1977)
 
(...) They told me where the band was staying, I took it from there, and somehow it worked out. I went to see the Clash and I met Mick (Jones) and Paul (Simonon) in their hotel lobby. Mick was looking me over and said "You're that guy from New York, right?" I said "Yeah," and Paul, who I hadn't met that night at Club Louise looked at me like 'oh, a journalist,' and he said, "Well, you better watch out 'cause we're cunts*" I just said "Yeah, you look it." From then on we were friends. (...)"

(*"cunt" é considerada uma das palavras mais ofensivas da língua inglesa. Normalmente utilizada para descrever os genitais femininos, neste contexto o significado será  "filhos da p***" ou "cabr***").
 



19 janeiro 2010

Perfil: Bob Gruen (Fotógrafo)


 Bob Gruen é um reputado 'rock n' roll  photographer' norte-americano. Ao longo de mais de 40 anos fotografou músicos como Bob Dylan, The Who, New York Dolls, Ramones, Clash, Sex Pistols, Patti Smith, Blondie, entre muitos outros.

Aqui fica alguma informação sobre Bob Gruen, bem como o link para a sua página pessoal, onde se podem ver (ou até comprar) fotos dos músicos acima mencionados e de muitos outros.

Bob Gruen nasceu em Nova Iorque em 1945 e a mãe ensinou-o a fotografar quando ele tinha apenas 4 anos. Vendeu as suas primeiras fotografias aos 11 anos. A sua carreira como fotógrafo de música/concertos começou em 1965, no Newport Folk Festival, que contou com a participação de Bob Dylan. Ao longo de 4 décadas, Bob Gruen afirmou-se como um dos mais reputados fotógrafos musicais, destacando-se como aquele que melhor documentou as cenas proto-punk, punk e new wave britânica e norte-americana.

Gruen tem sido aclamado não só pela qualidade, abrangência e longevidade do seu trabalho, como pela sua dedicação e pelas relações de amizade que estabeleceu com alguns dos músicos com quem trabalhou ou que fotografou, tais como John Lennon e Yoko Ono ou Joe Strummer. A revista Mojo atribuiu-lhe em 2004 um prémio pelo seu trabalho (na categoria de "Imagens Clássicas").

No discurso da entrega do prémio Gruen agradeceu, entre outros, aos The Clash, e particularmente a Joe Strummer, que o tinham encorajado a ver sempre algo de único e de belo em tudo o que contemplasse.

Bob Gruen participou numa exposição que esteve  patente no Museum of Modern Art (MOMA) de Nova Iorque até ao passado mês de Novembro, subordinada ao tema "Looking at Music: Side 2", com uma instalação intitulada "A Rock and Roll Teenager's Bedroom Wall", composta de um vídeo e de um enorme mural com posters, capas e folhas de revistas musicais.


Gruen é ainda autor das seguintes publicações:
  • John Lennon - The New York Years (2005)
  • The Clash (2004)
  • The Rolling Stones - Crossfire Hurricane (1997)
  • The Sex Pistols: Chaos (1990)
  • "Rockers: The Exhibit" (2008)
Aqui ficam algumas fotos disponíveis no seu website:


"Joe Strummer, NYC" 1981



"Sid Vicious Reading MAD Magazine", Baton Rouge LA 1978

Green Day at 'Top of the Rock' Overlooking New York City May 2009
 

18 janeiro 2010

Boas notícias: os políticos (e os terroristas) não gostam de punk

Este post inclui os vídeos: "Srs. Políticos" (Censurados), "Entregues aos Bichos" (Peste & Sida) e "Sr. Presidente" (Abandalhados).

Nada como começar a semana com boas notícias.

Sabemos que estar fora do mainstream musical tem vantagens e desvantagens.

Talvez a maior e a mais penalizadora  das desvantagens se prenda com as dificuldades acrescidas que os músicos têm em garantir a sua subsistência exclusivamente com base na sua actividade (musical), forçando-os muitas vezes a ter actividades profissionais paralelas. As consequências são várias e bastante negativas: afectam não só as vidas e o próprio trabalho dos músicos e das bandas como se traduzem também (a nível social) num grande empobrecimento cultural, ou numa monocultura dominante hipotecada aos interesses capitalistas neoliberais.

Contudo, nem tudo são desvantagens: de acordo com um artigo do jornal britânico The Guardian, os políticos, terroristas e criminosos (políticos) mundiais preferem o mainstream: Robert Mugabe é fã de Cliff Richard, Kadafi adora Lionel Richie, Kim Jong-Il  prefere Eric Clapton, e Osama Bin Laden (que terá um dia afirmado que "a música é a flauta do diabo" será afinal muito eclético a nível musical, preferindo músicos tão díspares como Van Halen, B52's e ... Whitney Houston.

Há alguns sinais preocupantes, com a preferência que Gordon Brown já manifestou pelos Arctic Monkeys (uma banda rapidamente engolida pela voragem mainstream...), mas julgo que o verdadeiro punk continua a salvo...

Isto leva-me a questionar: quais serão as preferências musicais dos políticos nacionais?

Contudo, não me parece que os nossos músicos e bandas punk se devam preocupar pois a possibilidade embaraçosa de ter admiradores nos corredores do poder é extremamente remota, como me parece que os vídeos abaixo (escolhidos de entre tantas outras possibilidades) demonstram...

(Censurados: Srs. Políticos)


(Peste & Sida: 1. Alerta Geral+ Entregues aos Bichos aos 3:10)



Abandalhados - Sr Presidente

Abandalhados | Vídeos de Música do MySpace

15 janeiro 2010

Alien Kulture e East is East: imigração e choque cultural


Este post inclui um vídeo dos Alien Kulture e dois vídeos do filme East is East.



 (Foto de Syd Shelton, in The Guardian/Observer 10 de Janeiro)


Um artigo desta semana do jornal britânico The Guardian revisitou uma banda punk já pouco conhecida  , os Alien Kulture (1979-1981), fruto das ondas de choque provocadas pelo movimento punk de 77 e em particular pelos The Sex Pistols. Este artigo será objecto de um post posterior, e pode ser lido na íntegra e no seu contexto original no link acima indicado.

Para já interessa relembrar esta banda por aquilo que a distinguiu, aquando do seu surgimento em 1979: o facto de ser uma banda constituída por imigrantes asiáticos de segunda geração, que utilizaram a música punk como arma política e de intervenção, expondo a xenofobia de Margaret Thatcher (que tinha apelidado dos imigrantes de "Alien Culture", e da Grã-Bretanha do final da década de 70,  a discriminação de que os imigrantes eram alvo no seu quotidiano. Os Alien Kulture chamavam também a atenção para os problemas,  dificuldades e conflitos (interiores, familiares, sociais) específicos dos imigrantes de segunda geração, criados no 'fogo cruzado' do choque de atitudes, hábitos, crenças e valores culturais diferentes.

A história desta banda trouxe-me à memória um filme britânico de que muito gosto, East is East (em português Tradição é Tradição, distribuído e vendido em Portugal pela Atalanta Filmes), realizado por Damien O'Donnell em 1999, que, misturando elementos dramáticos e humorísticos, aborda  estas mesmas questões. Uma boa proposta para o fim-de-semana.
Ficam aqui o vídeo de uma breve entrevista com os membros da banda (com excertos de actuações), e o trailer e um pequeno documentário com excertos do filme East is East e intervenções dos actores principais.





13 janeiro 2010

Grey Britain: Gallows e o peso do mundo contemporâneo

Este post inclui os vídeos "The Vulture Act II" e "Misery" (Live, Warped Tour 2009) dos Gallows.



Grey Britain, não sendo um álbum de que se  gosta à primeira audição, foi uma das novidades de 2009, considerado por muitos um dos melhores trabalhos do ano.

Os seus autores são os Gallows, uma banda britânica punk/hardcore formada em 2005, com um álbum de estreia intitulado Orchestra of Wolves (2006). Este álbum, editado  no Reino Unido pela Deep End Records, foi posteriormente lançado nos EUA pela editora de Brett Gurevitz (Bad Religion),  e incluiu uma cover de "Nervous Breakdown" dos Black Flag.

Os Gallows têm também dado que falar pelo facto de terem assinado um contrato milionário (1 milhão de libras!) com a editora multinacional Warner Bros para a realização deste segundo trabalho, o que os próprios descreveram na altura como "o maior erro da indústria discográfica" (!!!), e pelo facto da mesma os ter deixado em Dezembro passado, talvez por não ter conseguido 'controlar' o conteúdo do trabalho, que pode ser descrito como "brutal"...

"We see other bands being told what to do by their paymasters, but we're not one of them,"(Laurent Barnard, guitarrista) in The Guardian (aqui.).

Os Gallows têm estado presentes em muitos dos festivais 'alternativos', e fizeram toda a Warped Tour 2009.

Aqui ficam alguns excertos de entrevistas, reviews, desse trabalho polémico que vale a pena conhecer.


"There's one central idea behind our new album, Grey Britain, and it is: the world is falling apart. Right now we're heading into probably one of the greatest recessions in the history of humanity, so we thought: "Fuck it, let's write something that has some historical, political and social relevance."
(...)
We've always been about substance over style. And we're a very stylish band anyway, so the substance has to equate to the same. It would have been easy to write a pop record, sell 100m albums and bow out laughing. But instead we did what Gallows should have done and wrote the album we would have liked to hear as kids. It seemed right to take that money and put it back into the music.
Music is our life, but it's not the end of it. We're very aware of our surroundings; we're very aware of what's happening politically and socially – not just in our climate, but on a global level."



"Perhaps Warner Music was expecting a new Green Day or My Chemical Romance – inoffensive pop-punk for pre-pubescents – but those in the know recognised a great rock'n'roll swindle on a par with Malcolm McLaren's manoeuvring of the Sex Pistols through deals with EMI, A&M and Virgin over 18 months. "Cash from chaos," McLaren called it, while John Lydon quipped: "All we're trying to do is destroy everything.""
 (...) with their uncompromising sound and brawling live shows Gallows have gone further than any British hardcore band ever has. Spiritual forefathers such as Black Flag, Crass and Concrete Sox might have rightly railed against the establishment, but major-record deals were never an option for them. Gallows did the right thing. Knowing they could never be Green Day they took the money, toured the world and recorded an album so brutal no one could ever accuse them of selling out. Unlike so many landfill indie bands who have declared they have "made the album we always wanted to make" you suspect the Hertfordshire quintet have done exactly that."



"On one level, the result is as relentlessly horrible as you might suppose a melding of early 80s punk and prog to be. On another, relentlessly horrible is clearly what Gallows are aiming for: it's not like they intended to win over Lady GaGa fans with their scantily clad synth-pop, but ended up making a unremittingly gruesome prog-punk album by mistake. And there's no getting around the sheer power of the music, which grabs you by the throat and pins you against the wall, the better for Carter to scream in your face: the wolves are 'owling, we're all going to 'ell and so on."


The Vulture [Act II]

GALLOWS | Vídeos de Música do MySpace



Gallows - Misery Live at Warped Tour 2009

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11 janeiro 2010

Dalai Lume em Beja...Para Manter a Chama Viva



Os Dalai Lume estiveram mais uma vez em Beja, na Galeria do Desassossego, a promover o trabalho de 2009 Para Manter a Chama Viva. Chama, calor humano e entusiasmo não faltaram neste espectáculo, no qual reinou uma atmosfera de grande interacção e proximidade entre a banda e o público, para a qual muito contribuiu Zorb, o seu muito expressivo (mesmo teatral) e imparável frontman.



Os Dalai Lume fizeram desfilar os temas do seu LP, que se destacam não só pela sua qualidade musical como pelo carácter interventivo das temáticas tratadas. As letras, bem construídas e articuladas, abordam sem rodeios ou eufemismos (segundo os próprios, "sem espinhas") problemas e contradições (de carácter social e político) da sociedade (portuguesa) contemporânea. A visão crítica, nua e crua, da realidade sociopolítica, ao bom velho estilo punk, está bem presente em temas como "Sem Saber" (sobre o fundamentalismo religioso, na tradição de "Ateu" dos Censurados), "Dalai Lume" (a manipulação da informação), o actualíssimo "As Moscas Mudam" (o descrédito da classe política), "Retoma Lá" (a injustiça social, a crise socioeconómica e política nacional e internacional) e "Miseráveis" (o consumismo).



A desilusão e o descrédito são, contudo, contrabalançados por uma atitude (humanista?) de optimismo, força interior e da necessidade de 'manter o rumo', particularmente perante a adversidade, na senda do desenvolvimento e da evolução individuais ("Soluções", "Sentimentos", "Bem Longe", "Na tua Mão"). 


A verdade, contudo, é que o indivíduo não existe num plano distinto da realidade social, económica e política, condicionando esta, de facto, e em grande medida, as possibilidades individuais de vida e de desenvolvimento...

 

No final do espectáculo, o público, visivelmente conquistado, pediu mais, e os Dalai Lume ofereceram uma segunda rodada de alguns dos temas mais emblemáticos do álbum, aos quais o público, mais ou menos conhecedor, correspondeu com muito entusiasmo. No final, o balanço foi muito positivo, com o incremento certo do número de fãs e apreciadores alentejanos desta banda!




08 janeiro 2010

Dalai Lume vão aquecer Beja...

Este post inclui dois vídeos dos Dalai Lume in action: "Desenvolvimento" (ao vivo, com a participação especial de J. Ribas na guitarra) e "Miseráveis" (ao vivo, lançamento do álbum Out 2009). 



Os Dalai Lume, banda punk lisboeta formada em 2006, estarão amanhã em Beja (pela 2ª vez),  na Galeria do Desassossego, pelas 22h, e prometem aquecer a (de outra forma) gélida noite bejense com temas do seu LP de 2009 intitulado Para Manter a Chama Viva, lançado oficialmente em Outubro último.

Desengane-se quem pensa que se trata de uma banda 'jovem',/inexperiente, dado que todos os seus membros têm um curriculum digno de registo, no âmbito de outras bandas /projectos: "Zorb na voz (Rolls Rockers), Oregos na bateria (Tara Perdida, Pura Repressão, 2 Sacos & ½)" e "João Pinto (Punk Sinatra, Evil Class)". De registar ainda a participação especial do  carismático João Ribas (Tara Perdida/Censurados) em dois concertos da banda (2006), em substituição do guitarrista Tuka, no decurso da sua saída.

Os Dalai Lume têm participado em inúmeros eventos ao longo dos últimos anos, dos quais podemos destacar o 2º Tattoo&Rock Festival com os britânicos The Business em 2006, o Festival "Glória ao Rock" (2007), vários concertos de lançamento de Convocação, dos Gazua (2008) e a 1ª parte dos americanos The Dwarves (Cascais);  já em 2009, vários concertos de promoção de "Para Manter a Chama Viva", ou a presença na 1ª edição do Festival Outsider.

Para abrir o apetite e mostrar que valerá de certeza a pena sair de casa (ou como os próprios diriam, "levantar o cú do sofá"), aqui ficam...